sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Cantiga da Lavadeira

Homero Massena
Libertos da trouxa tremem
as calças e os paletós.
Doem na pedra pano e carne
sem anotações no rol.

Canto azul da lavadeira
lavado na ventania.
Mistura de corpos gastos,
de sabão, espuma e anil.

O suor da blusa operária
(chora o lenço de Maria)
Transita o amor pela anágua.
geme o lençol de agonia.

O sonho dorme na fronha,
a camisa precordial,
nódoas da fome da criança
na toalha da mesa oval.

Nas águas têxteis do rio,
há sabor de sangue e sal.

Mauro Mota (1911-1984)

Nenhum comentário: